Por Neila Bruno
A feira literária é um fenômeno novo no Brasil: as primeiras festas surgiram em Porto Alegre, em 1955 (http://www.feiradolivro-poa.com.br/). Atualmente, diversos eventos literários começaram a aparecer apostando em repercussões de longo prazo na cultura e na economia do livro. Entre as festas mais importantes está a Flip (criada em 2003) que neste ano chegou a sua 14ª edição. O evento contou com nomes importantes como o norueguês Karl Ove Knausgaard e a bielorrussa Svetlana Aleksiévitvh, e teve como autora homenageada a poeta Ana Cristina Cesar (1952-1983). À medida que a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) foi se tornando um exemplo de evento bem sucedido, foram surgindo outras feiras espalhadas pelo país, como a Fliporto, em Olinda, Pernambuco; a Flimar, em Marechal Deodoro, Alagoas; a Flica, em Cachoeira, Bahia; a Flivima, em Visconde de Mauá, Rio de Janeiro, entre tantas outras.
Em termos de marketing, grande parte desses eventos concentram suas programações em sites e redes sociais como facebook, twitter, instagram e o You Tube. Também são criados aplicativos que mantêm os leitores atualizados a respeito da programação, autores, ingressos e oficinas, além de contar muitas vezes com transmissão on-line da programação. Toda essa publicidade permite que os autores convidados tornem-se ainda mais conhecidos pelo público leitor. Certamente, esses eventos colaboram para a divulgação do nome do autor, já que é instigante para o leitor esse contato direto com escritores. Assim, nos dias atuais, o crescimento das feiras e festas literárias pode ser entendido como um sinal da mudança do campo literário contemporâneo.
Embora haja muita discussão sobre a finalidade desses eventos, podemos compreendê-los como um canal de promoção de muitos escritores e um incentivo à profissionalização da condição do autor de literatura. Associado ao caráter comercial do evento, é válido considerar que esses espaços aproximam leitor, escritores e livros. Nesse sentido, o escritor e curador de uma das edições da Festa Literária Internacional da Bahia, Aurélio Schommer, realça o valor positivo das feiras:
“Escrever é um ato geralmente solitário. Escritores tendem a ser solitários. Mas não o são por vocação íntima, pelo contrário. A ninguém fascina o contato com cada indivíduo tanto quanto ao escritor. Nas festas literárias, o contato direto, não tanto na mesa, em que as pessoas são plateia, mas nos bastidores e andanças pela cidade que abriga o evento, é para o escritor uma revelação, certamente inspiração para escrever ainda melhor. Assim tenho observado na Flica, por onde já passou mais de uma centena de escritores.”
Há ainda outra razão para o interesse dos autores em participar dessas feiras e festas literárias: elas se tornaram cada vez mais importantes porque atualmente o escritor não veicula apenas os textos que escreve. Construir uma performance é essencial: conseguir fazer as pessoas falarem sobre seus livros, contarem a amigos ou colegas que acabaram de conhecer um escritor em um evento, tende a assumir uma importância fundamental na luta pela visibilidade da obra e do autor.
Por esse motivo, esses eventos costumam dividir as opiniões da crítica que acredita que as feiras se converteram em megaeventos que estimulam a superexposição dos autores, enquanto as obras literárias perdem visivelmente prioridade, mas tal crítica é rebatida por aqueles escritores que acreditam que as feiras são investimentos ligados à cultura e à promoção de livros, contribuindo para dinamizar o mercado editorial.