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A Carreira do Escritor e as Oficinas Literárias 

Por Neila Brasil 

As oficinas literárias são uma prática comum nos dias de hoje no Brasil. Escritores e diversos profissionais da área de Letras passaram a ministrar oficinas literárias em espaços culturais. Essas oficinas podem se configurar como sessões conjuntas de análise crítica dos textos, contribuindo para o amadurecimento literário dos participantes. Neste caso, autores iniciantes procuram escritores e críticos mais experientes para que estes deem sugestões sobre seus trabalhos.  Esse diálogo com o leitor qualificado é muitas vezes sugerido pela própria editora e considerado fundamental por muitos escritores.

Num momento em que as novas estratégias de profissionalização do escritor estão se consolidando, a proliferação de oficinas representa uma importante reconfiguração do campo de formação e inserção do autor iniciante no cenário literário. Nesse post, gostaríamos de refletir sobre algumas questões: As oficinas podem ensinar alguém a escrever? Qual o papel das oficinas literárias na formação dos escritores? 

Em um primeiro momento vamos pensar nas oficinas como espaços de discussão e aprendizagem. Ministrantes de oficinas literárias podem, por meio de sua experiência cultural, artística ou acadêmica, proporcionar aos alunos o conhecimento de técnicas baseadas na leitura de textos em prosa, trechos de poemas e contos, mediados por seus comentários críticos. Essa atividade tem sido uma resposta à demanda de formação dos escritores iniciantes que desejam conhecer as principais técnicas ficcionais e refletir sobre a escrita.

Diversos escritores brasileiros contemporâneos que circulam com êxito no cenário literário passaram por oficinas. Este é o caso de Daniel Galera, Michel Laub, Cintia Moscovich, Paulo Scott, Carol Bensimon. Alguns deles já confirmaram em entrevistas e depoimentos que terem participado de uma oficina literária contribuiu para sua carreira. Segundo Daniel Galera, participar da oficina literária de Assis Brasil, na PUC de Porto Alegre, serviu como “ponto de partida para pensar a literatura com um pouco mais de ambição”. 

Entretanto, essa visão positiva do papel das oficinas literárias não é unânime. O escritor gaúcho José Hildebrando Dacanal define oficina literária como “uma atividade privada e paga, e o mais das vezes informal, auto-apresentada como tendo o objetivo e a capacidade de ensinar adultos a escrever”. O autor contesta a possibilidade de ensinar alguém a escrever e considera um engodo oferecer tal serviço. O pressuposto que sustenta essa posição é o de que o artista nasce artista. Na sua visão, a arte não pode ser ensinada. Embora concorde com Dacanal em alguns pontos, o escritor Charles Kiefer defende que nenhuma oficina literária afirmará ser capaz de criar escritores, pois segundo ele o papel das oficinas é “desenvolver escritores”. 

O escritor Raimundo Carrero, em entrevista sobre a oficina que ministrou na FLIP em 2005, assim definiu a importância das oficinas literárias para os escritores potenciais: “É importante que eles descubram que são escritores. E que também não existe essa distância extraordinária entre seres mitológicos inspirados por musas e aqueles mais humildes que apenas se propõem a estudar e escrever literatura”. 

Em depoimento a este blogue, a ensaísta e professora Márcia Ligia Guidin, que coordena oficinas literárias há oito anos, afirma que a finalidade das oficinas é “compartilhar os trabalhos (em prosa, ou poesia, ou textos críticos) e desenvolver um senso autocrítico a partir da experiência”. Ouvindo e opinando, o autor desenvolverá a segurança necessária para analisar sua própria escrita, segundo a professora. Ela também enfatiza a questão do respeito ao trabalho e à opinião do escritor iniciante. 

Como podemos observar, não há um único ponto de vista sobre as oficinas literárias. Alguns argumentam incisivamente que talento ou dom não se ensinam e que inspiração não é mercadoria. Outro grupo acredita que é possível adquirir critérios de qualidade textual frequentando uma oficina literária e que os alunos podem, sim, compreender os mecanismos do texto. Divisões à parte, o fato é que cresce a demanda por oficinas literárias, e muitas pessoas motivadas pelo interesse em se tornarem escritoras procuram esses espaços para refletir e discutir literatura. Em minha visão, as oficinas literárias contribuem para a formação do escritor. Penso que a escrita pode ser aperfeiçoada e que a produção de textos, a análise crítica e o diálogo com um profissional experiente são fatores decisivos para escritores iniciantes. 

Podemos colocar ainda algumas questões finais: Para um escritor renomado haveria vantagens em ministrar oficinas literárias? Em caso positivo, quais seriam elas?

Para autores já renomados, ministrar uma oficina significa uma proximidade maior com seus leitores, a divulgação de seu nome e de seus livros, a interação com outros escritores e a possibilidade de refletir sobre técnicas literárias e sobre sua própria obra, além de motivar autores iniciantes. Ministrar oficinas também pode ser uma opção profissional em termos de mercado de trabalho, assim como dar palestras, ministrar cursos, participar de feiras e festas literárias e outros eventos de divulgação patrocinados por editoras e diferentes instituições. 

As oficinas literárias e a profissionalização do autor

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Por Larissa Nakamura

Aproveitando a deixa do último post escrito por Neila, aqui, no blog, vale a pena comentar o artigo publicado recentemente pela Folha de S. Paulo, intitulado “Escritores consagrados ajudam novos talentos com oficinas”. O texto relata casos de bem sucedidos autores da literatura brasileira que ministram oficinas de criação literária para aspirantes a escritor ou mesmo artistas com experiência no mercado das letras. De modo geral, a razão que parece motivar essas pessoas a frequentar tais oficinas é uma busca por novas referências, ideias, temas, discussões sobre arte etc., o que deve variar de acordo com o método escolhido por cada palestrante.

As oficinas literárias apresentam-se como um cenário em plena expansão ao longo dos anos e funcionam não apenas como um ponto de partida para escritores iniciantes, mas também como atividade remunerada ligada à literatura para autores cada vez mais conhecidos pelo público em geral e pela crítica especializada, segundo a reportagem. Como o post de Neila apontava, há casos de sucesso de autores que frequentaram oficinas literárias e aos poucos consolidaram sua carreira e conquistaram prêmios literários. Apesar disso, é importante frisar que, de acordo com o que afirma Trevisan no artigo, “[…] o treinamento não visa, necessariamente, a profissionalização literária.”

Acreditamos que o tema trazido pelo artigo traz à tona alguns dos elementos mais frequentes na profissionalização do escritor e que garantem a manutenção de sua carreira. É possível afirmar que os escritores que ministram as oficinas já têm certa autoridade, reconhecimento e experiência, ao menos no que tange ao circuito das artes. Assim, osworkshops propiciam aos autores uma oportunidade para se articular e circular entre seus pares.

A participação cada vez maior em atividades diversas relacionadas à literatura (como, por exemplo, a oferta de oficinas literárias), incrementa a profissionalização do escritor e amplia sua circulação e atuação no campo literário, além de assegurar um retorno financeiro para além dos acordos contratuais com as editoras para publicação da obra literária.

Noemi Jaffe, Lourenço Mutarelli, Marcelino Freire e João Silvério Trevisan despontam como alguns dos nomes à frente das oficinas. Não deixa de ser curioso observar como muitas vezes o método adotado pelo autor ao ministrar a oficina pode revelar muito do próprio processo de escrita de cada um. Jaffe afirma que “[…] não conseguiria escrever sem elas [as aulas].”, já que, segundo ela: “Os cursos me obrigam a ler tempo todo e buscar fontes novas para os exercícios.”. Já no caso de Mutarelli, a parte inicial de pesquisa (recolhimento de recortes e panfletos, e posterior colagem dos mesmos de forma aleatória) e a consequente produção textual pelos alunos refletem o mesmo método de escrita do autor, que assim pretende montar parte de seu novo romance. Por fim, Trevisan deixa claro que deseja partilhar no seu próximo curso as etapas de criação do romance que está em andamento, fato que pode servir de inspiração para jovens estreantes na literatura.

Apostamos que os cursos de escrita criativa apresentam-se como um forte marcador de algumas das possibilidades existentes de atuação no campo literário para o escritor que deseja solidificar sua carreira. Por fim, pensamos que tais workshops, propiciam ao próprio ministrante e também aos seus alunos a criação de uma rede de sociabilidade, tão necessária para alimentar a cena literária.

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