Arquivo do mês: julho 2014

A narrativa digital

Por Elionai do Vale

A capacidade de contar histórias parece mais viva do que nunca hoje na era digital. Basta ver como os jogos de video game apelam a formas mais narrativas. A literatura no meio digital conecta autores, leitores, programadores, espectadores, webdesigner e estende-se a blogs, videoblogs, videogames, e-books, twitters.

Desse modo, pensar no processo de configuração da narrativa eletrônica, também chamada de narrativa digital ou narrativa interativa, é fundamental para se compreender o conjunto de ferramentas que constitui o modo de contar histórias hoje. Mas o que é narrativa digital?

Encontramos uma tentativa de caracterização no livro da pesquisadora americana Janet Murray, Hamlet no Holodeck. O futuro da narrativa no ciberespaço (2003).  Aí Murray aposta que o modo de contar histórias que nasce com os computadores é de natureza procedimental, isto é, uma obra procedimental é uma narrativa que apresenta regras e possibilidades para a ação do leitor a fim de pavimentar o caminho para um pacto imersivo de leitura.

A literatura contemporânea recente arriscou-se na narrativa digital a partir   do lançamento em papel e na tela do computador do livro-jogo de Simone Campos, Owned.  A proposta é que o leitor sinta-se como num jogo de vídeo game e assuma a identidade de André, personagem principal, fazendo as escolhas por ele (as opções dizem para você sair da página 85 e pular para a página 210 ou escolher entre pegar um amuleto, que vai ser incorporado à trama, ou optar por fazer com que o personagem ignore, por exemplo, um e-mail que recebeu).

Histórias imersivas nos transportam a mundos encantados, essa é uma caracteristica de toda ficção, personagens como o Sr. Darcy de Austen atravessaram séculos por sua compelxidade.  Mas nos ambientes digitais novas oportunidades ativam outras possibilidades para o estímulo da imaginação.  Acredita-se que a realidade virtual ofereça novo tipo de participação mais ativa do leitor.

A capacidade de manter ativo o leitor, que é tratado nas narrativas digitais como um interator, é apontada como fundamental ao caráter imersivo estimulado pelo ambiente Com a narrativa digital os leitores atuam literalmente para colocar em prática novas táticas narrativas, já que o interator tem a possibilidade, concedida por inúmeros procedimentos que orientam suas escolhas durante a leitura, de explorar  a aventura de descobrir novas trilhas na milenar arte de contar histórias.

Se investimos no estudo das narrativas digitais, percebemos que ela oferece novas possibilidades estéticas e abre novos horizontes para a investigação sobre a narrativa literária hoje.