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O papel da crítica na profissionalização do escritor

Neila Brasil

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Sabemos que a arte é afetada pelos meios de produção e que o funcionamento do campo literário está ligado a causalidades históricas, econômicas e sociais. Com as mudanças no campo social e os avanços da tecnologia, a forma como artista, público e crítica se inter-relacionam também sofreu profundas transformações. O escritor contemporâneo está necessariamente inserido no mercado e o modo de produzir e difundir suas obras confere a ele um lugar no campo literário.

A crítica literária pode ser considerada uma importante instância de legitimação na profissionalização do escritor. O debate que divide a crítica em dois campos, um “especializado” e outro “não-especializado”, pode ser um indicativo de como é possível ler as relações entre crítica e profissionalização, partindo do pressuposto de que a recepção crítica, seja ela especializada ou não, contribui para a formação da imagem do autor e para a valoração de suas obras.

Se a crítica especializada é atribuída aos professores e pesquisadores universitários, a crítica não-especializada está relacionada ao jornalismo cultural e também com os leitores que estão na internet e que ao comentarem obras e autores em blogs, vloggs e redes sociais, criam um espaço de circulação para suas produções.

Embora a crítica especializada seja tida como relevante, não é incomum encontrarmos posições que comentam a presença de um jargão tão específico à teoria utilizado nas resenhas e comentários sobre a produção literária que acaba contribuindo para certo isolamento da própria literatura. Ainda assim, é possível afirmar que a produção analítica produzida nas universidades é uma instância de legitimação, para utilizarmos o conceito de Pierre Bourdieu, ainda fundamental, na profissionalização do autor, na medida em que promove e avalia a produção artística.

No entanto, se a crítica não-especializada parece mais próxima do leitor que está fora da universidade, mas se interessa pela literatura, muitas vezes o que encontramos no jornalismo cultural (que cada vez mais tem reduzido o espaço dedicado à literatura, ao comentário crítico sobre arte de um modo geral) ou na internet, destina-se apenas à divulgação e não à análise das obras, constituindo apenas um release do lançamento do momento.

Com o reconhecimento da internet como uma instância de legitimação, quero sugerir que a separação entre a crítica especializada e a não-especializada pode não ser assim tão evidente. Já que uma instituição cultural não acadêmica pode promover eventos, debates e mostras com a participação de especialistas e estimular o diálogo com jornalistas e críticos não especializados.

Assim, seria possível considerar que as condições de recepção e difusão da literatura na contemporaneidade transgridem, até certo ponto, os limites que separam a crítica especializada daquela produzida pelos demais agentes da indústria cultural.

Um autor que atrai a atenção da crítica, seja por se tornar objeto de estudo de uma tese universitária, seja por ter sua obra resenhada em jornais de grande circulação, encontra na recepção à sua obra um caminho para a conquista da legitimação de seu nome. Quando um autor conquista capital simbólico, consegue usá-lo a seu favor, conquistando também uma posição no campo literário.

Dessa forma, poderíamos arriscar dizer que a recepção crítica de um autor é um elemento fundamental para a aquisição do capital simbólico, outra noção de Bourdieu, e que a crítica tanto especializada quanto não especializada por auxiliar a construção da imagem do autor perante o público e demais agentes do campo literário, constitui-se um importante elemento de profissionalização do escritor.