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Sobre fanfiction e literatura interativa

André Neves

Desde que iniciei o Mestrado, tomei as fanfictions como meu objeto de estudo e desde então tenho percebido que, de lá para cá, as questões que envolvem seu modo de produção e circulação estão sempre em movimento de modo que estudá-las é um desafio constante.          

Estudos recentes demonstram que cada vez mais as formas de expressão produzidas hoje parecem moldadas para a captura da multiplicidade, da velocidade e da volatilidade – características próprias da era digital – e que a interatividade é pensada como um processo inerente à produção das novas formas textuais, como as fanfictions.

Como já disse em outro post, a fanfiction é um tipo de produção baseada na colaboração. Supõe, portanto, a interatividade. Mas, se é assim, porque a necessidade de realçar essa característica com a proposição de um subgênero chamado fanfic interativa, como vem aparecendo cada vez mais frequentemente na rede?

A grande diferença consiste em que mais do que sugerir com reviews modificações no rumo da trama, os leitores, na fanfic interativa, atuam como verdadeiros personagens, inserindo-se na própria história que ajudam a construir. Nas plataformas que permitem esse tipo de interação, o conjunto de informações fornecido pelo participante é utilizado para compor sua caracterização como personagem do enredo da fanfic para a qual colabora, diferentemente das outras produções nas quais os personagens baseiam-se em obras cultuadas por fãs leitores.

Essas transformações no universo das fanfics me instigam a pensar o campo já expandido (a noção é discutida por Rosalind Krauss) das produções textuais publicadas nas plataformas virtuais hoje. Assim, talvez seja possível pensar que esse tipo de produção está relacionada às transformações mais amplas do campo artístico no presente, pois envolve a desestabilização das fronteiras dos gêneros (o que Garramuño chama de inespecificidade), a valorização da criação como processo, a interatividade como um imperativo do mundo virtual cada vez mais presente nas artes, o que implica ainda um interesse maior em relatar a si mesmo (para usar a expressão de Butler).