Arquivo da categoria: Indicação de sites

As agruras de um poderoso editor

2016-08-08

Por Larissa Nakamura

http://www.blogdacompanhia.com.br/

Pode um “simples” blog de uma famosa editora brasileira trazer, além de elementos vários à discussão literária, uma interessante perspectiva sobre quem está do lado de lá – quem edita livros?

A meu ver, parece uma boa ideia dar continuidade ao compartilhamento de sites que interessem àqueles que acompanham o que anda acontecendo com a literatura contemporânea na internet (ver texto de Davi Lara, em junho). Neste post, quero explorar o blog da Companhia das Letras, uma das editoras mais prestigiadas do país.

Desempenhando o papel de plataforma de divulgação dos discursos dos escritores e funcionários da empresa, e também de estratégia de marketing, a presença de editoras no espaço digital, independente do formato sob os quais se introduzem (redes sociais, blogs, sites etc.), revela algo das novas dinâmicas do campo literário contemporâneo.

Diante das tantas seções que compõem o blog da Companhia, destaco a denominada “Da casa”, que se subdivide em: “Palavra do autor” e “Companhia apresenta”, nos quais os próprios autores podem escrever ou deixar a cargo da editoria a promoção de sua obra. Além disso, os escritores da editora também podem atuar como colunistas no blog. Sob esse aspecto, Milton Colonetti (2014, p. 75) assinala a importância de tal atividade para a carreira do escritor, já que: “O espaço no blog da editora, além de ser um local de acúmulo de capital simbólico, garante ao produtor uma exposição contínua e um meio de captação de recursos monetários que vincula seu trabalho à produção editorial, tornando o escritor um verdadeiro produtor assalariado da editora.”

Voltando então à minha pergunta inicial, creio que a voz do Luiz Schwarcz, editor­-chefe da Companhia das Letras, presente nesse espaço virtual dá aos leitores a oportunidade de conhecer um pouco melhor a atuação de uma figura tão intrigante quanto a do editor, acostumado ao backstage da vida literária, mas que, aqui, aparece tentando estabelecer algum contato com os leitores.

Basta uma primeira leitura dos posts publicados por Schwarcz para adentrarmos no complexo universo do editor – suas preocupações enquanto profissional no mercado das letras, o(s) processo(s) de edição, as relações com escritores/clientes, as intuições que as primeiras páginas da leitura dos manuscritos despertam nele, a importância das capas, o papel dos agentes literários, etc.

Destaco dois posts do Schwarcz que podem resumir a autorreflexão proposta em seus textos e que trazem à tona questões que estão no âmago do ofício: Detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer — ou um tempo à toa na estação de trem e O mundo assombrado pelos best­sellers — ou me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios. De modo geral, o que se nota são as falas representativas acerca da velha dicotomia arte vs. mercado. Sendo assim, qual o posicionamento do editor sobre o tema?

“[…] o clamor contra o aspecto comercial do livro é ingênuo, não só nos dias de hoje, mas mesmo se pensado historicamente. Ainda assim, os leitores deste blog veem que, vez ou outra, mantenho vivo certo idealismo, presente desde o dia em que optei por trabalhar com livros. Justifico assim, relativizando logo de cara, o meu clamor ou angústia intermitentes pela comercialização exacerbada do ambiente cultural em que vivo. Sei que tenho alguma razão e muita ingenuidade. O mercado editorial sempre foi mercado, e sempre será.”

É interessar ressaltar que, mesmo adotando uma atitude que deseja aberta e não conservadora, ainda existe alguma hesitação, resistência; transparece uma espécie de ambiguidade intrínseca no trabalho do editor de livros. Entre a defesa do caráter artístico ou mercadológico, Luiz Schwarcz enfrenta o dilema apontando para a necessidade de existir um equilíbrio entre ambos que garanta que seus empreendimentos editoriais e todo o sistema artístico que os envolve continuem a existir.

Voltando aos posts, é possível que o grande público se interesse por temas que estejam diretamente relacionados aos números, contratos e negociações por trás das obras lançadas, mas não é ainda nesse espaço que tais questões serão expostas ou discutidas. No blog, o que prevalece é a face artística do processo de produção da obra de arte. Assim concluo que falar de cifras ainda causa desconforto, ao menos é o que sua omissão parece nos indicar.

Fatos, anedotas histórias, erudição, engajamento político é o que podemos ler na coluna assinada por Luiz Schwarcz no blog da Companhia. E, você, conhece blogs de outros editores? Se sim, compartilha aqui com a gente nos comentários.

Um sítio para chamar de seu

Por Nívia Maria Santos Silva

nivia

Para aqueles que não podem se deslocar até o CEDAE da UNICAMP para consultar o Fundo Bruno Tolentino, é bom saber que, desde 2012, o poeta carioca tem um sítio para chamar de seu. Lá podem se inteirar sobre muito de sua vida e de sua obra, assim como de sua fortuna crítica, entrevistas e notícias. O site https://brtolentino.wordpress.com/, editado por Leonardo Oliveira, é muito bem organizado e apresenta um conteúdo rico que vai de uma galeria de fotos até as produções críticas do poeta e sobre o poeta.

Na página PRODUÇÃO CRÍTICA E TEÓRICA, há muitos links que nos direcionam para os textos que Tolentino escreveu para veículos diversos, sobretudo, para a Revista Bravo!, na qual atuou com frequência, principalmente, de 1997 a 2000. Entre ensaios e resenhas (como “A lorota de Ipanema”, na qual criticava o lançamento do livro A teus pés, polemizando, já em 1998, com a agora homenageada pela FLIP, Ana Cristina Cesar), encontramos as transcrições de suas palestras e das três últimas aulas de Bruno Tolentino, ministradas em maio de 2007, menos de um mês antes de sua morte, editadas por Guilherme Malzoni Rabello sob o título de “Do enigma ao mistério”.

A FORTUNA CRÍTICA também é expressiva, contando com textos que expressam críticas nem sempre positivas sobre o poeta como o “A história como múmia: sobre a poesia de Bruno Tolentino” ou “Tolentino recusa a modernidade e pregacontrareformapoética”, ambos de Marcos Siscar. Além disso, há links para dois textos publicados aqui no Leituras Contemporâneas: “Bruno Tolentino: uma ideia de poesia” e “Os Sapos de Ontem: a polêmica como tomada de posição, o que mostra como os responsáveis pelo sítio estão atentos ao que vem sendo produzido sobre a produção do autor.

Não poderia deixar de indicar as ENTREVISTAS. Está lá na íntegra a controversa entrevista concedida à revista Veja em 1996, “Quero meu país de volta”. Convido também a não sair de lá sem dar uma passada pela, como o próprio Tolentino dizia, “cinematográfica” cronologia, que, com certeza, sofrerá mudanças com o lançamento de sua biografia, ainda sem data prevista para o lançamento e a cargo de Pedro Sette-Câmara.

Mas imprescindível mesmo é a página de POESIA. Lá, Leonardo Oliveira teve o cuidado de colocar cada uma das obras de Tolentino, as publicadas somente no exterior ou mesmo Infinito Sul (1957) que não costuma aparecer na bibliografia oficial do poeta. É possível também clicar sobre o nome dos livros e conhecer a capa, o número de páginas, os prêmios que recebeu e, mais importante, o sumário que dá uma ideia do conteúdo de cada obra.

O sítio é todo interessante, apresenta, de fato, um painel geral para os curiosos e para os pesquisadores, para os que conhecem ou pretendem começar a conhecer o poeta Bruno Tolentino. Quando tiver navegando por aí, então, faz uma visita: https://brtolentino.wordpress.com/.

 

Dois sites de poesia

Maluda_duas_Janelas

Por Davi Lara

Quem circula em meios literários já deve ter ouvido inúmeras vezes que a internet é um grande facilitador na hora de um escritor divulgar sua obra e que esta ferramenta é ainda mais valiosa para os escritores iniciantes. O escritor que está iniciando a carreira tem hoje na era digital um poderoso suporte para circulação e publicação de sua obra. Mas o que é mais difícil de ouvir é que, se hoje as oportunidades para um escritor publicar e divulgar a sua obra usando o espaço virtual aumentaram, também aumentaram as chances de que ele fique perdido no oceano de novos autores que, como ele, estão lançando suas obras na rede. Assim, além de publicar e de divulgar, o escritor que queira se utilizar dessa ferramenta fascinante que é a internet precisa achar os meios para que sua obra chegue ao leitor. É nesse contexto que surgem, hoje, espaços virtuais que acabam ocupando esse papel, como uma espécie de vetor aonde o leitor pode ir em busca de novidades. É nesse sentido que eu gostaria de destacar, no post de hoje, dois blogs que serviram para mim, em meados de 2013, quando os conheci, como uma ponte com o que estava se passando atualmente, com o que os escritores pensavam sobre assuntos diversos, quais questões os inquietavam e, sobretudo, o que eles estavam produzindo. São estes blogs: o Escamandro e a revista Modo de Usar & Co. Ambos dedicados à tradução, crítica e divulgação de poesia.

O Escamandro está na rede desde 2011, é editado por Adriano Scandolara, Bernardo Lins Brandão e Guilherme Gontijo Flores, os três poetas e tradutores, os dois últimos professores universitários (Vinicius Ferreira Barth atuou no blog de 2011 a 2013). Já a Modo de usar & Co. é mais antiga, iniciou seus trabalhos em 2007. É editada, em sua versão digital, por Angélica Freitas, Marília Garcia e Ricardo Domeneck, todos poetas e tradutores. Desde o inicio de suas atividades, o site esteve relacionado à revista impressa, que tem, além dos nomes já mencionados, o poeta Fabiano Calixto na edição, e já está no quarto número. O que já é uma coisa que a diferencia do Escamandro, que nasceu exclusivamente como um blog e só publicou uma versão impressa em 2014, tendo o número dois sido publicado neste ano. Essa diferença se acentua ainda mais quando percebemos que a Modo de Usar & Co., mesmo na versão digital, se autodenomina revista e não blog. Isso se deve, ao que me parece, à intenção dos editores de dar à Modo… ares de “manifesto”, como fica claro desde o texto de divulgação do número de estreia, onde termos como “assume sua posição”, “intervenção” ao lado de menções ao “cenário contemporâneo” e aos “parâmetros críticos vigentes” ocupam um lugar de destaque. A Escamandro, ao seu turno, possui um discurso menos intervencionista, por assim dizer, assumindo o formato blog com tudo o que ele traz junto.

Salvaguardadas as diferenças, gosto de pensar os dois espaços como portais onde se pode entrar em contato com uma gama variadíssima de ideias e informações sobre a poesia. Um dos grandes atrativos que esses endereços eletrônicos trazem para o leitor curioso do que está sendo feito agora é servir como um espaço de reunião de diversos escritores que estão começando. Gosto em especial de acompanhar os poetas da minha geração ou de uma geração próxima, nascidos na transição democrática na década de 1980, nos quais é possível ver a construção de uma poética relacionada às questões históricas que todos nós compartilhamos, sob diferentes perspectivas. Além disso, tanto o Escamandro como a Modo de Usar & Co. são grandes  portais de poesia em geral, com autores de todos os tempos, do Brasil ou do estrangeiro, abrangendo um leque amplo de poéticas, de modo a atender a orientações e gostos igualmente diversificados. Eu mesmo descobri algumas pérolas nestes espaços. É interessante ressaltar também o trabalho de comentário e crítica, bastante intenso no Escamandro, bem como no Modo de Usar & Co.

O fato de ambos os sítios se concentrarem na poesia me parece de grande importância. Ainda que a internet mimetize o ritmo da sociedade capitalista com o qual a poesia se incompatibiliza, é no espaço da rede que podemos encontrar espaços de divulgação como os aqui em questão e que podem ser lidos como polos de resistência ao sistema de subvalorização da poesia no mercado contemporâneo.

Por ora, isso é o que o que tenho para dizer sobre esses dois sítios. Agora é hora de deixar que eles falem por si mesmos:

https://escamandro.wordpress.com/

http://revistamododeusar.blogspot.com.br/