Sergio Marcone Santos

Sob o título desse post, defendi, no último dia 25 de março, minha dissertação de mestrado. Os dois anos de pesquisa consistiram em perguntas insistentes que conduziram a leituras que me desafiaram a entender de que formas o digital afeta a literatura nos dias de hoje, e se haveria uma presença das práticas da internet na produção de literatura.
Reconhecendo que a técnica de cada período pode afetar a produção literária, parti da obra da crítica Flora Süssekind, Cinematógrafo de letras (1987), que viu alguns procedimentos inspirados nas mudanças tecnoindustriais do início do século XX – como a imitação ou o uso da dicção jornalística – passarem à uma “lógica cultural” peculiar à produção literária, para pensar em algo semelhante em relação ao momento digital.
Considerando então algumas produções atuais, argumentei que o modo de a rede afetar a produção literária hoje passaria por práticas colaborativas (o trabalho em conjunto entre autor e um programador de computadores, por exemplo) e também pelo uso de algo corriqueiro na Rede: o copie e cole. É, inclusive, baseado nesse recurso que o poeta Kenneth Goldsmith (2015) pensa a noção de “escrita não criativa”, que consiste na apropriação de materiais já existentes dando a eles novos contextos, provocando um questionamento sobre o papel do “gênio criador” e da originalidade.
Mas como a dissertação em breve estará disponível no Repositório, resolvi humildemente, à Valéry e Benjamin, e fazendo jus à prática de apropriação, trazer algumas anotações (uma
pequena mostra da “casa das máquinas” do trabalho) feitas por mim ao longo desses dois anos de pesquisa. Ei-las:
“Pucheu [um dos autores analisados]: procedimento. O poema impõe a imagem e o som”
“Legibilidade. ‘Não há nenhuma forma de não entender’ (p. 151 de Goldsmith). Sai de um público leitor para um que reflete”.
“ATENÇÃO. O que esse texto tende a promover é a despersonalização, afastamento da subjetividade do ‘eu criador’ (segue citação de Eliot)”
“Laddaga: uso da lógica do arquivo? Possibilidade de exposição do processo? Trabalho em cooperação? Ideia frágil da obra?” [recebido por email].
“Pensar os modos de produção entre a técnica e a literatura”.
“A partir da noção de ‘escrita não criativa’ (G, 2015), este trabalho pretende discutir a questão da autoria em algumas obras de literatura (brasileira?) do presente…” [Rascunho para um resumo]
“Anotação = produto da leitura do original de Borges / dispositivo disparador da potência imaginativa das narrativas” [trecho de um artigo]
“Poética da falta de originalidade. O que a internet tem a ver com isso?”
“Não é surpreendente, então, que alguns gêneros venham a ser conhecidos pelo software utilizado para criá-los e executá-los (HAYLES, p. 23)”
“Fala da ‘chegada’ dos elementos hipertextuais que, sobretudo a partir do final dos ’80, passam a aparecer na literat. analógica. Traz 2 leituras semióticas de obras. Estabelece o final dos anos 80 como começo do uso consciente desses recursos (Bom isso. Demarca bem com relação às obras que já tinham essa característica) [sobre um artigo lido]
“texto para ser lido. evitar citação”
“A escrita digital está mudando a cult. do livro”
“+ que comunicação, promove inovações na cultura”
“Quais os limites para a análise [de textos não criativos]?” [pergunta feita pela banca]
“Bourriaud: cultura do uso = artista não precisa criar” [anotação a partir de observação da banca]
“p. 12 – entre-lugar?” [idem]
“A internet está destruindo a literatura. E isso é bom” [KG, no tt, e título de um posts aqui do blog]