Por Nívia Maria
No dia 29 de agosto de 2014, publiquei neste blog meu primeiro texto sobre Bruno Tolentino: “Bruno Tolentino: o ilustre desconhecido”. De lá para cá, muitos outros textos foram postados, traçando minha trajetória de pesquisa. “Um sítio para chamar de seu”, “Um projeto editorial para Bruno Tolentino”, “O eu lírico e os outros eus”, “Um jogo complexo de figurações”, as postagens seguiam ao sabor das descobertas e constituíram um verdadeiro passo a passo das minhas investigações, agindo diretamente sobre a redação de minha tese.
Meu processo de aprendizado e de produção foi marcado pela minha participação no Grupo de Pesquisa Leituras Contemporâneas. Por meio de abordagens teóricas e críticas, o Grupo de Pesquisa fomentou leituras e discussões indispensáveis e, incitando diferentes formas de pensar a literatura, me proporcionou ocasiões nas quais pude apresentar meu trabalho acadêmico ainda em andamento e realizar trocas com meus colegas pesquisadores, compartilhando as alegrias e as angústias com as quais me deparei durante o percurso.
Além disso, no itinerário percorrido ao longo desses quatro anos, novos fatos foram se impondo e, durante a execução das etapas, novas reflexões foram sendo realizadas. Muitas experiências, como a participação em eventos científicos e a consulta ao CEDAE, acabaram ditando alterações de rotas. Fui percebendo o quanto é importante possuir um planejamento, pois, por mais que haja mudanças, ter uma estruturação do trabalho pode potencializar o aproveitamento de novos achados.
Mesmo reconhecendo a importância do planejar, fui percebendo que a pesquisa é, sobretudo, aventura. Quando publiquei em 2015 o texto “Pesquisa: uma aventura autorreflexiva” já tinha consciência de que as curvas no caminho fazem parte do processo de investigação que vai sendo realizado. Hoje, compreendo que o reexame dos rumos são efeitos desse próprio processo. Aprendi que produzir uma tese é mais construir um caminho do que seguir um caminho. No fundo, o “saber fazer” vai sendo conquistado no próprio processo de feitura. O exame de qualificação foi a etapa que mais me deu a certeza disso.
Meu anteprojeto chamava-se “O Poeta sob o Polemista: um estudo lítero-biográfico sobre Bruno Tolentino”. Logo após as primeiras disciplinas cursadas, os primeiros encontros de orientação e o avanço mais científico da pesquisa, o anteprojeto virou projeto sob o título de “O poeta sob o polemista: um estudo de trajetória do poeta Bruno Tolentino”. Com a função de especificar o caminho que o trabalho acadêmico foi tomando, esclarecendo-o, o subtítulo foi sendo alterado à medida que a pesquisa evoluía e a fundamentação teórica ia se estabelecendo. Quando submeti parte da tese ao exame de qualificação, o projeto tinha saído do papel com o título “O poeta sob o polemista: um estudo sobre a autofiguração em Bruno Tolentino”. Apesar de ter resistido por um bom tempo, esse título acabou sucumbindo nos últimos instantes e, para abarcar de forma mais abrangente o todo do trabalho, foi entregue à banca da defesa a tese intitulada “Eu, modelo, martelo e monumento: um estudo sobre a autofiguração em Bruno Tolentino”.
Os títulos e subtítulos supracitados mapearam a direção que a pesquisa foi tomando: do Tolentino polemista ao Tolentino poeta, da crítica biográfica ao estudo de trajetória, do estudo de trajetória ao estudo sobre autofiguração. Levantei informações, selecionei, filtrei, relacionei, reelaborei, gerei um corpo de conhecimentos que me levou a conciliar os estudos sobre autofiguração com a teoria dos campos de Bourdieu na tentativa de provar que a mitificação da biografia pelo próprio Tolentino, a instauração de antagonismos com outros agentes do campo e a presença de rastros autobiográficos em sua produção poética e ensaística constituíam um empenho para demarcar sua diferença no campo literário brasileiro.
Daqui a pouco mais de dez dias, vou me apresentar diante de uma banca de doutores para realizar a defesa de minha tese. Mais um ritual de passagem que a jornada acadêmica vai determinando. Sei que não será um momento fácil, mas um doutorado não é para ser fácil, talvez por isso mesmo seja tão instigante e producente. Com as contribuições ainda por vir dos integrantes da banca, a defesa ainda não será o fim da travessia, mas, como os melhores ritos, será, com certeza, uma celebração.
Nívia, querida. Bom ler esses excertos de sua tão rica trajetória. Bom desfrutar de sua companhia, mesmo que esparsas, e perceber sua entrega à pesquisa que, ao certo, trará grandes contribuições para a vida e a obra de Tolentino.
Sorte sempre.