A universidade e a profissionalização

Por Neila Brasil

 

Como um escritor em início de carreira se inscreve no circuito literário? Além das habilidades relacionadas à criação literária, que implicações a atuação do escritor iniciante na cena literária da qual faz parte tem para a consolidação de sua trajetória? Conhecer alguns momentos importantes e alguns passos decisivos da carreira da autora Adriana Lisboa – uma escritora reconhecida e consagrada – pode nos ajudar nessa reflexão. A relação do escritor iniciante com críticos, jornalistas e agentes literários pode ser entendida como um elemento importante para a legitimação de sua carreira?

Adriana Lisboa desde o início de sua carreira demonstrou grande interesse em se estabelecer profissionalmente como escritora. Ingressando em um curso de pós-graduação, mesmo sem ter a intenção de seguir a carreira acadêmica, Lisboa, no mestrado, escolheu como objeto de estudo a poesia de Manuel Bandeira, reunida no livro Estrela da vida inteira. Sua pesquisa resultou na elaboração de um romance, Um beijo de colombina, que foi publicado pela editora Rocco.

Na trajetória literária de Adriana Lisboa, a universidade teve um papel estratégico, funcionando como uma importante instância legitimadora, para falarmos como o sociólogo, Pierre Bordieu, da legitimação do nome da escritora. Não apenas porque na academia Lisboa estabeleceu relações com outros elementos importantes do campo literário, como críticos e especialistas na produção literária contemporânea brasileira, mas porque pôde entrar em contato com um modus operandi à instituição universitária, seu modo de produção de conhecimento teóricos e prático a respeito do objeto literário, e participar de debates e discussões sobre literatura.

O livro Um beijo de colombina, que nasceu como dissertação de mestrado, foi finalista de dois prêmios importantes: o Prêmio Jabuti e o Prêmio Zaffari Bourbon. Ao ser inscrito em premiações literárias, o livro passou a circular por uma esfera de leitores qualificados, críticos, acadêmicos e jornalistas especializados, e ao figurar como finalista de premiações importantes, obteve o aval de uma outra instituição legitimadora.

Logo depois de seu mestrado, Lisboa ingressou no doutorado em Letras e manteve o projeto de apresentar como tese um romance baseado no diário de viagem escrito pelo poeta japonês Matsuo Basho. Para a produção do romance, Adriana Lisboa

foi pesquisadora visitante no International Research Center for Japanese Studies, em Kyoto, com uma Bolsa da Fundação Japão. O romance Rakushisha também figurou como finalista em três prêmios literários: Prêmio Jabuti, Prêmio Zaffari-Bourbon e Prémio Casino da Póvoa em Portugal.

A chancela da academia, ou seja, o fato de ambos os romances terem sido avaliados previamente e terem passado por bancas formadas por professores especialistas abre um flanco ao reconhecimento do nome da autora por outras instâncias legitimadoras, como os prêmios literários.

A partir daí, é possível perceber que Adriana Lisboa volta à academia, agora, como objeto de estudo, já que atualmente a obra de Lisboa é discutida em monografias e teses universitárias.

Acreditamos, assim, que instâncias de consagração como a universidade e os prêmios literários têm peso considerável para o reconhecimento público do escritor nos dias de hoje. Elas ampliam a rede de relações do autor colocando-os em contato com outros profissionais que atuam na cadeia do livro, favorecem a interação do escritor com outros escritores, fornecem ao público uma avaliação prévia das obras por especialistas, funcionando como engrenagens importantes para a profissionalização do escritor.

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