Curtos-circuitos e desconstruções

divulgação e-galáxia

Por Nivana Silva

Publicada pela e-galáxia em formato digital, a revista cultural Peixe Elétrico: livros e ideias, desde Julho de 2015, mobiliza, bimestralmente, reflexões e debates no âmbito das artes, trazendo algo sobre a contemporaneidade de forma “diferente”, conforme ressaltam os editores do periódico. O escritor paulistano Ricardo Lísias assina a publicação, ao lado de Tiago Ferro e de Mika Matsuzake, que também são idealizadores da e-galáxia. Inspirados, especialmente, pela extinta revista argentina Punto de Vista, o trio afirma, no editorial de estreia, ter como principal foco o livro, “no que ele tem de mais amplo e universal: o poder de instigar, provocar e fazer a cultura se mover”, endossando, contudo, que a publicação não visa abranger somente a literatura, mas as artes de um modo geral.

Já no seu quarto volume em formato e-book, Peixe elétrico edita, paralelamente, um blog que apresenta entrevistas, artigos de opinião, comentários e resenhas sobre diversos temas do mundo contemporâneo, sem perder de vista, é claro, o universo das artes. Assim como a publicação bimestral impulsiona “choques”, “sustos” e “conflitos” – palavras-chave que aparecem no já citado primeiro editorial – o blog incita discussões e inspira reflexões nas águas culturais a partir do “curto-circuito” do qual advém a eletricidade dos textos.

Navegando pela plataforma, fui fisgada por uma publicação de fevereiro deste ano – que considero, particularmente, com uma voltagem um tanto alta, devido aos meus interesses de pesquisa. Intitulado “Derrida, um egípcio”, o post, encabeçado por Lísias, traz uma entrevista com o pesquisador Evando Nascimento, grande conhecedor da obra do filósofo franco-argelino Jacques Derrida. O livro homônimo ao título da matéria diz respeito à tradução (realizada por Nascimento) de uma obra do filósofo alemão Peter Sloterdijk, dedicada ao pensador da desconstrução. Com o intuito de discutir o trabalho de Sloterdijk em edições posteriores, a Peixe-elétrico trava um diálogo com o tradutor de Derrida, um egípcio, levando em conta, também, a eloquência do legado derridiano, como sugere Lísias, que, na abertura da entrevista, enfatiza: “tudo o que diz respeito a Derrida me encanta e me parece misterioso”.

A conversa que a partir de então se dá entre Evando Nascimento e a revista coloca dois nomes próprios na mesma cena, Sloterdijk e Derrida, abrindo espaço para um tratamento inicial da obra do primeiro e reiterando a importância do arcabouço crítico derridiano para discussões em vários países, inclusive no Brasil. Fazendo jus ao título da revista e aos curtos-circuitos que ela deseja provocar no leitor, Nascimento relembra, brevemente, algumas contribuições do filósofo da desconstrução nos mais diversos campos do conhecimento, mesmo após a sua morte, em 2004. A inquietante –  e eletrizante – obra de Jacques Derrida, com todas as suas rupturas e questionamentos, abre espaço, ainda hoje, para reflexões acerca da contemporaneidade, da linguagem, da literatura, das artes e, nesse sentido, a entrevista e o tema que a permeia configuram apenas uma amostra do que é possível encontrar em Peixe-elétrico, blog ou e-book. Sendo assim, creio que uma das grandes razões para ler o periódico seja a busca por questões e temáticas, na seara das artes, que nos façam mergulhar longe das águas mansas e que, em direção oposta, fomentem o debate, nada monótono, e instiguem o leitor de várias formas, afinal de contas, como salientam os editores, “do conflito talvez surja alguma luz. Produzir cultura é incomodar”.

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