Por Elizangela Maria dos Santos
As vertiginosas transformações decorrentes dos avanços tecnológicos, os quais se acentuaram no final do século XX e início do novo milênio, provocaram alterações em todos os aspectos da sociedade. Inexoravelmente, a internet tem significativo papel nas mudanças impostas ao mundo. Desde a velocidade das condições de comunicação e transmissão de informações à dissolução de fronteiras diversas, tais como espaço- tempo, e consumo-produção, entramos na era da informação da qual a internet constitui instrumento central.
Uma vez que os sistemas tecnológicos são produções sociais, as reconfigurações provocadas pela internet impactam também (ou essencialmente) as práticas culturais. E muitas das mudanças a que se assistem no campo literário (apenas) foram possíveis por causa do surgimento da internet e suas ferramentas, dos quais são exemplos a literatura eletrônica e as modificações no fazer artístico que “caracterizariam” a arte contemporânea.
Walter Benjamin (2010), em seu artigo intitulado A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica enfatiza as consequências advindas com a reprodução técnica da obra de arte, a partir da fotografia e do cinema. Os escritos do alemão são sempre citados quando se trata de refletir sobre as relações entre a tecnologia e as práticas culturais e os processos de ressignificação da arte.
Centrando seu argumento no modo de olhar do sujeito, Jonathan Crary (2012) defende que as mudanças em relação aos modelos clássicos de visão, ocorridas no início do século XIX, aconteceram graças a redefinições de práticas sociais que “modificaram as capacidades produtivas, cognitivas e desejantes do sujeito humano”. Essa concepção coloca o sujeito, mais precisamente as transformações na sua forma de visão, como essenciais para que sejam discutidas a importância do espectador e as mudanças em sua maneira de ver, de sentir e de pensar para discutir a arte.
Considerar a internet como peça essencial nas redefinições artísticas é de fundamental importância quando se trata de pensar a relação entre técnica e arte. Contudo, é preciso levar em conta que o próprio surgimento de recursos tecnológicos é fruto de reconfigurações do sujeito, ou seja, das mudanças entre o sujeito-observador e a os modos de representação. Quando há mutação nas formas de visão do sujeito, há transformações que produzem um novo tipo de observador que, inserido em um contexto determinado, percebe possibilidades e pode empregar as capacidades desse sujeito-observador como forças para estar presente na sociedade e em meio às práticas culturais. Esse sujeito que se modifica para estar em contextos específicos explicaria as diferentes possibilidades literárias na contemporaneidade.
É muito importante pensar a relação entre técnica e arte. Os avanços tecnológicos, no caso específico a internet e seu ciberespaço com todas as suas possibilidades hipermidiáticas, modificam nosso modo de relação com a literatura não só por servi-lhe de novo suporte, mas, sobretudo, como meio de produção da própria literatura. Assim, podemos falar da literatura transposta do livro para a web, mas também de outra mais afetada pelas mudanças, que é a produzida a partir da internet, sofrendo seus efeitos na linguagem e na forma e, consequentemente, em sua recepção cada vez mais interativa.