Reprodução – Bernardo Carvalho

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Marcos Torres

Recentemente, Bernardo Carvalho concedeu uma entrevista para a Globonews Literatura, sobre seu mais novo livro, Reprodução, publicado pela Companhia das Letras em 2013.

Nela, o autor diz nunca ter gostado de a literatura estar atrelada à política, mas, como afirma que o contexto atual pode ser caracterizado como o de um novo fascismo, Carvalho defende um livro mais político. Diante de um mundo confuso em que, segundo o autor, não sabemos direito onde mora o perigo, a justificativa para um livro mais político está na proliferação, principalmente pela internet, de um discurso dissimulado e carregado de fascismo, racismo, anti-semitismo, anti-arabismo etc.

Para Carvalho a internet, que, aparentemente, alardeia a liberdade e a democracia, desconstruindo hierarquias, propiciou, na verdade, o fim da democracia e com ela o fim da privacidade e da vida privada , propalando um sistema de controle absoluto, de pura publicidade.

No livro, o narrador é um sujeito que segue para o aeroporto, mas, ao chegar, é preso na área de embarque; o enredo trata de um trabalhador do mercado financeiro, um estudante de chinês, que perdeu o emprego, perdeu a mulher, e, a partir de um discurso paranoico, acredita que a China será a nova dona do poder global. O texto traz a sensação de ser uma sequência de três monólogos sem um interlocutor, mas na verdade trata-se de um diálogo com um delegado que nunca aparece na história, não há descrição detalhada nem de aspectos físicos, nem psicológicos da personagem. Segundo Carvalho, esse delegado representa certa opacidade e o contrário do mundo da visibilidade absoluta, onde tudo é dito e tudo é mostrado no mundo em que vivemos hoje, e para o qual a gente cada vez mais vai se encaminhando. Por outro lado, o personagem sem nome e que fala quase sem parar é o representante desse fascismo disfarçado de outro tipo de discurso e com isso difícil de ser combatido.

Para Carvalho, o estudante de chinês é a representação desse tipo de discurso que está estreitamente vinculado à internet, à sensação de visibilidade absoluta e à perda da privacidade, onde tudo é mostrado e nada é mostrado, tudo é dito e nada é dito e, portanto, um discurso contraditório. E, como está no próprio título do livro, tudo não passa de uma mera reprodução.

Não sei, mas acho que talvez seja interessante a gente se apropriar deste último termo para pensar sobre a produção literária contemporânea e suas diferentes formas de subjetivação. Assim como discutir se a relação entre Literatura e Política ainda tem alguma validade dentro da produção atual.

Assista a entrevista AQUI!

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